terça-feira, 1 de setembro de 2009

Saudade sem rima - de Brasilia.

Dei um beijo

na paisagem da janela

de um dia de seco

cinzameu nariz e minha boca

formaram aquela fumacinha

no vidro moldura


A janela era da Ana

o domingo era o da despedida

corroia-me a lembrança

de abandonar os amigos

e, impotente, beijava

a cidade que eu via dali

Esplanada,

perfilada.

Alvorada,

lago, brilhante, sem barcos, solitário.

Como eu.


Pela primeira vez

eu ia embora

e deixava tudo que tinha certeza conhecer para trás

por isso sentia

mais pesado

o fardo das lembranças.

Cortava meu coração,

o all star sujo do meu pai

os cachinhos da Nina

o presente

A risada da Luiza

A ultima festa lá em casa

A loucura da Carol

os blocos T, R e S

Os cabelos pretos da Julia

Os olhos claros da Bruna

As gracinhas do Maia e do Diego

A cumplicidade da Isabela

A beleza da Débora

A constante saudade da Shara

O meu irmão Caetano

Minha prima gatinha Mariana

Minha mãe

O jeito da Julianna

A May que me chamava de meu bem

A minha amiga Inez

Os telhados cinzas da minha casa

Os jardins da cidade

As arvores do Eixão

Todos os bougavilles

eu ia levando tudo,

lutando com a metade que queria ficar

pensava na hora da despedida

é simples, dizia

basta jogar beijos para todos

e sorrir

mas no fundo sabia

que grande esforço seria

virar as costas

sair pisando firme

e juntar o resto das forças

para arrastar - com uma cordinha -

um coração,

inchado de saudades.

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